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REPRESENTAÇÕES DO LUTO POR EXÍLIO VOLUNTÁRIO EM Cartas Parisienses DE LEÏLA SEBBAR E NANCY HUSTON

  • Foto do escritor: Rosiane Xypas
    Rosiane Xypas
  • 31 de dez. de 2009
  • 3 min de leitura

UMA LEITURA À LUZ DA PSICANÁLISE DO LUTO


INTRODUÇÃO

A literatura desde sempre se ocupa de temas essenciais à reflexão dos estados da alma do ser humano. Ela sempre apostou pela escrita, interagir de modo ativo para conceber temas universais, como tempo, vida, morte dentre outros. Embora tenha a literatura e diversas ciências humanas se ocupado do fenômeno da morte, suas representações no Ocidente revelam uma história marcada de dor e sofrimento.

Ora, a falta de prazer pode desencadear comportamentos, usos e costumes culturais originários de diversas sociedades ocidentais que afastam tudo que estiver relacionado com a dor e o sofrimento ou em outros casos, esses elementos servem como objetos de inspiração literária. Assim sendo, não só o tema da morte foi destacado na literatura ocidental como também o do exílio que para muitos autores, sendo considerado um estado mental, é pior que a morte.

Como se sabe existem dois tipos diferentes de exílios: o imposto e o voluntário. Ambos provocam perda, quer dizer, luto.

Na literatura ocidental, encontram-se representações do tema do exílio que suscitam dor, sofrimento e luto como também a reconstrução do ser exilado. Não buscam os escritores expulsar a dor que os assola erguendo um mundo diferente do seu real reconstruindo assim seu psiquismo abalado? Di Folco (2001, p.429) afirma que “o exilado é simultaneamente considerado como sujeito da perda e do objeto perdido. Sujeito da perda, porque há sempre o sentimento de ter deixado os seus, e objeto perdido porque vive a própria perda como abandonado pelos outros”2. Ora, esses sentidos não aludem à necessidade de superação do luto? Sim. Porque não se pode viver eternamente na dor e no sofrimento.

Em se tratando de exílio forçado, são criadas associações significativas relacionadas ao sentimento de luto advindo da perda da terra natal e da língua-cultura maternas. O exilado vive diversas mortes simbólicas: a distância dos lugares vividos na infância, na adolescência, a distância dos genitores e de toda a história vivida em seus primeiros anos de vida. No exílio voluntário, a perda, a dor e o sofrimento também estão presentes, por esse sentimento provocar dor pelo contato com o novo, que embora desejado faz sofrer o sujeito. E nós o definimos como um mergulho no luto às avessas, justamente porque se vive na contramão dos fatos: não é o luto um comportamento rejeitado na sociedade atual? E o que fazer para superá-lo? Quais as representações do luto voluntário em Sebbar e Huston no corpus escolhido? É nosso objetivo neste artigo, analisar as representações do exílio voluntário em Lettres Pariennes – Histoire d’exil (Cartas Parisienses – História de exílio) de duas escritoras, a saber, Leïla Sebbar e Nancy Huston à luz de teorias da psicanálise.

Do luto para o exílio voluntário, porque este está na contramão dos fatos. Enquanto àquele é banido de nossas vidas, esse é desejado, aceito de modo desafiador mesmo que seja doloroso. O exílio voluntário visto assim, se torna um contra senso porque na cultura ocidental, elege-se a vida sem dores, não à busca de dores na vida. Mesmo que o exílio voluntário evoque liberdade de escolha, não se pode ignorar um hiato existente entre a vida e a morte, a vida/morte da infância, o pleno de um vazio do ontem, a presença de uma ausência constante, a falta do outro e das coisas de nossa infância, daqueles primeiros tempos que nos construiu, do conviver com a falta da pátria e com ela, a ausência da língua-cultura primeira nas expressões de nossas emoções.

Isso é luto, e como tal deve ser ultrapassado porque quem perde, sofre, e precisa superar o sofrimento para retomar a alegria de viver.3

Postulamos que o conhecimento do processo do luto possa ser importante para superar a dor da perda. Em seguida, apresentaremos brevemente a evolução do léxico dos vocábulos dor, luto e exílio através de vozes de alguns escritores, de dicionários etimológicos e do dicionário da Morte. Enfim, os resultados das análises de Cartas Parisienses – história de exílio.



 
 
 

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