MULHER, IDENTIDADE E DISCURSO (2022)
- Rosiane Xypas

- 14 de nov. de 2022
- 2 min de leitura
“O estranho mundo de hoje”: o enigma da vida em poemas e narrativas de Cecília Meireles
Rosiane Xypas
INTRODUÇÃO
“Esta sou eu – a inúmera”.
Que tem de ser pagã como as árvores
E, como um druida, mística.”
Mar Absoluto (1945)
Não é raro nem difícil perceber que professores e alunos da escola e da universidade constroem seu saber sobre a Literatura Brasileira, tanto a partir da historiografia quanto das leituras dos críticos sobre as obras literárias. No entanto, não é raro e nem difícil perceber que o que às vezes é legitimado pelos críticos, é deslegitimado pelos não críticos. Certo, a instituição impõe a leitura de clássicos, mas não abre espaço algum para investigações das leituras do leitor comum sobre a obra clássica negando quase sempre um dos elementos do ensino-aprendizagem da literatura.
A instituição escolar, universitária quer e várias vezes consegue dar ao estudante uma leitura pronta, diminuta porque advinda de outros no âmbito da formação do leitor. No entanto, não está em tempo de se pensar em uma instituição que viabilize uma “leitura [como um] rito de passagem
pelo qual o leitor cresce em sua consciência do mundo e da linguagem?” (SANTOS, 2021, p. 12).
A leitura pronta e diminuta, porque o sujeito leitor não a constrói, acontece na leitura da obra da poetisa Cecília Meireles (1901-1965), uma leitura formatada, condicionada em páginas de alguns de seus versos encontrados palidamente em livros didáticos. Cecília aparece sempre da
mesma forma nos livros escolares, restringindo-a. Porém, ao se fazer um estudo aprofundado da obra completa de Cecília Meireles, por exemplo, confrontando uma leitura pessoal com a dos críticos, e quando se pensa em uma homenagem aos 120 anos desta poetisa, surge diante de nossos olhos, uma outra Cecília, rompendo com a forma(ta)ção anteriormente recebida.
Restringindo-me às duas mil páginas de poesia escritas por ela, e reunidas em 2001 por Antônio Carlos Secchin pela editora Nova Fronteira, temas universais de sua obra saltam aos olhos de qualquer leitor comum. Cecília trata da vida, da morte e do tempo, para citar apenas três de tantos outros temas universais¹ com uma pluma leve, mas desconcertante. Ela realoca as palavras conhecidas arranjando-as em outros espaços físicos da língua portuguesa, e psicológicos em cada leitor que a lê. Cada tema tratado impõe ao leitor comum refletir em sua própria vida. O efeito poético produzido no ritmo de cada poema lido suscita, o que afirma Octavio Paz (1956), uma manifestação simples, uma atitude, um sentido, uma imagem distinta e particular do mundo. [...]
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